
Perdi Soul Kitchen nos cinemas em 2009. A partir do momento em que comecei a me interessar por cinema independente e fora de circuito, comecei a fuçar jornais e revistas culturais atrás de coisas legais pra assistir. O vício começou com os Irmãos Dardene e o belíssimo “A Criança”, Palma de Ouro em Cannes naquele ano. Deus abençoe a tecnologia do .torrent. Fiz o download do filme e confesso que não me arrependi: foi impossível encontra-lo nas locadoras. Está é uma comédia de erros gostosa de ver. Conta a estória de Zinos Kazantsakis, um jovem anti-herói adepto do “bom e velho rock'n roll” dono do mítico restaurante Soul Kitchen. Conta com a fiel garçonete Lucia para tocar o seu negócio. Mas ele está sem sorte: sua namorada o trocou por um emprego em Xangai. A vigilância sanitária e a receita federal estão no seu pé.
Como se não bastasse, seu irmão Illias sai da prisão durante o dia, sob permissão de regime semiaberto. Illias pede um "emprego de mentira" para ele, para ficar mais tempo na rua, e apostar em cavalos. Zinos aceita, e nesse interim acaba conhecendo o temperamental Shayn. Cozinheiro talentoso, passa ao posto de chef do Soul Kitchen, mas no começo é duro: ninguém frequenta seu restaurante, porque querem a junkfood de antes. Mas o restaurante começa a faturar, os clientes mudam, Illias se torna mais responsável e engata um affair com Lucia, ajudando Zinos e Shayn a transformar a Soul Kitchen numa balada-restaurante, ponto quente de happy-hour.
Mesmo com os negócios indo muito bem, o coração do jovem continua partido e ele resolve ir atrás de sua ex-namorada, deixando o restaurante nas mãos do irmão Illias – será que ambas as decisões foram péssimas? O filme é honesto, tem uma história cliché, reta, e acessível, até na moda do cinema americano. Mas o tem uma aura diferente. "Aquela" aura de cinema europeu, diferente. Tem um tom pastelão, meio cine francês, meio "Casamento Grego". Fotografia luminosa, quente e colorida. Tem várias referências black/soul, e trilha sonora deliciosa: recheada de reggaes, bee-bop, rock'n roll e R&B.
É o primeiro longa que assisto de Fatih Akın. Outro filme seu, Contra a Parede (Gegen die Wand, 2004) lhe rendeu o Urso de Ouro da Berlinale. Na cinematografia de Fatih Akın, o cotidiano dos alemães-turcos é um tema recorrente, e em Soul Kitchen, ele foi suavizado, talvez até obliterado. Mesmo assim, Akın nunca renega suas raízes turcas e até mesmo aceitou o prêmio do Festival de Cannes em nome do cinema deste país. Fã de Martin Scorcese e dos diretores ítalo-estadunidenses, o diretor tem sua "musa", como seus mestres: assim como Scorcese tem usado De Niro e Dicaprio, Akın tem o ator Birol Ünel (Shayn) como ponta-de-lança.
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Shayn explicando para Zinos como "enganar" os loucos por junk food |
Fantástico na atuação, Birol faz lembrar um misto de Gerard Depardieu-canastra e chef Gordon Ramsey, em cenas e diálogos impagáveis. A atriz Anna Bederke (Lucia) aparece em seu primeiro filme, e tem um quê de Uma Thurman em Pulp Fiction, com aquela franja, olhar misterioso e seu jeitão free de ser (além de ser maravilhosa). Adam Bousdoukos está competente e divertido como o protagonista Zinos. Tem o veterano Moritz Bleibtreu como Illias (o famigerado ladrão Manni, de Corra Lola Corra) em ótima atuação também!
Opinião: Ótimo, pra assistir comendo pipoca e outras guloseimas com os amigos num sabadão. Para fãns de: Corra Lola Corra, Pulp Fiction, Alta Fidelidade, Durval Discos, O Fabuloso Mundo de Amelie Poulan.
Soul Kitchen Alemanha, Turquia. 2009. 99 minutos. Comédia.
Direção: Fatih Akın. Roteiro: Adam Bousdoukos e Fatih Akın.
Elenco: Adam Bousdoukos, Moritz Bleibtreu, Birol Ünel, Anna Bederke, Pheline Roggan, Lukas Gregorowicz, Dorka Gryllus, Wotan Wilke Möhring, Udo Kier.
>> Leia a fantástica crítica da Alessandra do blog Moviesense sobre o filme>> Marcelo Hessel citou em sua crítica cáustica no Omelete
>> A Criança dos irmãos Dardene
>> Corra Lola Corra
Gostei! Achei o desprêendimento dos atores interessante. Todos muito bem. O sr. Fatih Akin,sabe tudo.É um diretor competente sem sombra de dúvida. Prende o expectador pura e simplesmente sem,precisar exagerar. Mesmo com a cena compulsiva de drinks,para nós expectadores,a dose foi certa!!!
ResponderExcluirObrigado pelo comentário! Taí um filme que eu preciso rever! Valeu pela visita, e volte sempre. =)
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