Joseph Campbell e o Mito em Hollywood


Você provavelmente não conhece Joseph Campbell. Você talvez conheça George Lucas. Agora, se você gosta um pouquinho de cinema, e não esteve numa prisão de segurança máxima ou vivendo numa reserva de índios durante os últimos 30 anos, você com certeza assistiu Star Wars (Guerra nas Estrelas), Back to the Future (De Volta Para o Futuro), Matrix, Toy Story e Avatar. Qual a ligação entre eles?

Biografia

Joseph John Campbell (1904 — 1987) foi um estudioso norte-americano de mitologia e religião comparativa. Atleta bem sucedido na juventude, recebeu diversos prêmios em competições no colegial e universidade. Graduado em Literatura Inglesa em 1925, ganhou seu mestrado em Literatura Medieval em 1927. Recebeu uma bolsa de estudos para estudar francês antigo e sânscrito na Universidade de Paris e na Universidade de Munique. Após uma visita ao Museu Americano de História Natural em Nova Iorque, onde contemplou  artefatos dos índios nativos americanos, o autor sentiu despertar seu amor por história e mitologia.

Durante a sua estadia na Europa, foi altamente influenciado por autores da Lost Generation (Geração Perdida) como Thomas Mann. Outras influências são de Paul Klee, Pablo Picasso, Sigmund Freud e Carl Jung. Mas seus principais ídolos eram o escritor James Joyce e o pesquisador Heinrich Zimmer, autor cuja obra Campbell editou e publicou, grande parte artigos post-mortem.

Trabalhos

O mitólogo publicou ao longo da carreira mais de 20 trabalhos sobre mitologia e região comparada. Para o público brasileiro, os trabalhos de maior relevância são: O Poder do Mito, O Herói de Mil Faces e a coleção As Máscaras de Deus.


O Poder do Mito (considerada uma boa introdução à sua obra) é fruto de uma série de conversas mantidas entre o autor e o destacado jornalista Bill Moyers, numa brilhante combinação de sabedoria e humor. Discutindo o casamento, os nascimentos virginais, a trajetória do herói, o sacrifício ritual, Campbell compara a história da criação de Gênesis com as histórias de criação. Fala-se também da importância do aceite da morte como um renascimento, como no mito do búfalo e a história de Cristo, o ritual de passagem nas sociedades primitivas, o papel dos Xamãs místicos, e o declínio do ritual na sociedade atual.

O Monomito

Monomito (ou A Jornada do Herói) é um termo criado para designar os padrões básicos encontrados por ele nas inúmeras narrativas, cantigas e lendas de diversos países e culturas. Fã de James Joyce é provável que Campbell tenha retirado este termo de novela do autor chamada Finnegans Wake.

Campbell e outros estudiosos como Erich Neumann, descrevem a narrativa de Buda, Moisés e Cristo como exemplos de partilha do monomito. Argumentam ainda que muitos mitos de várias culturas seguem a este padrão. Campbell separa A Jornada do Herói nestes seguimentos:

1 - O chamado da aventura
2 - A recusa do chamado
3 - O auxilio sobrenatural
4 - A passagem pelo primeiro limiar
5 - O ventre da baleia
6 - O caminho de provas
7 - O encontro com a deusa
8 - A mulher como tentação
9 - A sintonia com o pai
10 - A apoteose
11 - A benção ultima
12 - A recusa do retorno
13 - A fuga mágica
14 - O resgate com auxilio externo
15 - A passagem pelo limiar do retorno
16 - Senhor dos dois mundos
17 - Liberdade para viver



De forma mais condensada e fluente, neste texto vemos claramente boa parte da Jornada do Herói:

"O Herói se encontra em um mundo ordinário, comum. Nos mitos antigos, é uma vila ou povoado. Nos filmes, um bairro do subúrbio ou um ambiente urbano comum. O Herói faz suas atividades corriqueiras, dia após dia, mas sente em seu âmago que algo falta para que sua vida seja completa. Ele sente um desconforto, precisa de mudança, algo além de suas expectativas.
Então, algo acontece.

Talvez, um Antagonista o conduza a um novo mundo, causando um distúrbio em sua vidinha pacata. O talvez um mensageiro chame o Herói para a aventura. O Chamado à aventura trará transformação, e isto é aterrador. O Herói confrontará o medo. Ele sobreviverá? Escolherá certo quando for o momento: o bem ou o mal? Na primeira metade da jornada, o Herói será testado. Ele terá que mensurar quais serão as regras que regem aquele novo e estranho mundo. Em quem o Herói poderá confiar? 

Ele conhecerá então os Guardiões, pessoas que conhecem os segredos daquele lugar. Ele terá que entrar "em sua pele", entender seus hábitos, e talvez faça amigos e aliados. Exatamente no meio da jornada, ele enfrentará o ponto-da-virada mitológico, quando ele sentirá o medo em forma bruta: irá invadir o quartel ou a "toca" de seu Inimigo/antagonista. Ele sentirá então as conseqüências de tal ato, refletirá sobre sua estratégia e seu plano de assalto, além das chances reais de realizá-lo. 

Agora ocorre uma cena chave que se repete freqüentemente nos mitos: o inimigo recebe o ataque surpresa, mas se recobra suficientemente forte para o Ato Final. Um sinistro momento se aproxima, e o Herói sente que não há meios para derrotar um inimigo tão poderoso. Então virá o teste final, para demonstrar se ele aprendeu as lições valiosas de sua jornada. 

Ao vencer o Antagonista no Ato Final, ele perceberá que o processo o purificou, reafirmando que ele é parte do todo, do seu mundo, e do novo mundo que conhecera. Ele voltará para casa trazendo algo: o Elixir, o Tesouro, o Santo Graal, conhecimento, ouro, amor, sabedoria, humildade. No final, o Herói se torna alguém melhor, completo.”

Hollywood, George Lucas a Escrita Criativa

George Lucas, é responsável por grandes pérolas do cinema, como a série Indiana Jones. Sua obra-prima é a série Star Wars (Guerra nas Estrelas), onde ele deliberadamente utilizou os estudos de Campbell sobre o Monomito. Lucas admitiu que usou A Jornada do Herói para desbloquear sua paralisia criativa em diversas ocasiões em entrevistas.

George Lucas concedeu uma extensa entrevista falando da influência de Campbell em seu trabalho para integrar a biografia Joseph Campbell: A Fire in the Mind: "nos dias de hoje não existe o uso moderno destas ferramentas. Então foi quando comecei a fazer uma extensa pesquisa sobre contos-de-fada, folclore e mitologia. Foi ai que comecei a ler os livros de Joe. Fiquei tão maravilhado com a leitura de O Herói de Mil Faces, que iniciei meu primeiro esboço da história de Guerra nas Estrelas seguindo os conceitos apresentados por ele."

Fontes e Leituras

>> http://www.storymaking.com/
>> http://www.amalgama.blog.br/02/2009/joseph-campbell-o-evolucionista-das-religioes/
>> http://www.gointothestory.com/2008/05/joseph-campbell-heros-journey.html
>> http://www.movieoutline.com/articles/hero_journey.html
>> http://www.crackingyarns.com.au/screenwritingresources/best-screenwritingbooks/
>> http://en.wikipedia.org/wiki/The_Writer%27s_Journey:_Mythic_Structure_for_Writers

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>> Compre os livros e os dvds de Joseph Campbell no site da Livraria Saraiva.


Fernando Miranda

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