Música: Os Melhores Ruídos de 2011

Por Fernando Miranda

Eu sempre fui uma pessoa extremamente musical.

 Isto se reflete nas postagens do blog, que, em sua maior parte são sobre música ou sobre algo relacionado. Como a maioria das pessoas, eu adoro uma listinha! E como por ai na blogosfera e nos sites de cultura e entretenimento pululam listas de todos os gêneros, não pude deixar de compor uma lista também com os melhores álbuns de 2011 na humilde opinião deste que vos escreve. É claro que fiz uma lista reduzida, pessoal, e faltarão inúmeros bons discos deste ano. Mas prezei pela originalidade e por grupos que em sua maior parte não estão no mainstream (na mídia) o tempo inteiro, ou seja, novidades.

Nacionais:

Confesso que este ano foi um ano de repatriação musical, de renovação do que toca no meu player. Em 2011 fiz uma imersão na música brasileira, e isto porque me senti de certa forma saturado de ouvir grupos e artistas em outras línguas. Ao ler a entrevista de Chico Buarque dada a edição 61 de outubro deste ano da revista Rolling Stone Brasil, percebi como era leigo não só em termos de música, mas de história e cultura do Brasil. E a busca pelos álbuns seminais da nossa música contemporânea -- que contou com a ajuda dos queridos amigos @thiagomusicine e da @edechocolate, editora do ótimo Brave New World -- me levou aos "novos" artistas que agradaram meus ouvidos:

Wado - Samba 808

Ex-integrante dos projetos Santo Samba e O Realismo Fantástico, o cantor e compositor catarinense radicado em alagoas desfila lindas composições nesse álbum. Lançado inicialmente pela internet, teve uma excelente aceitação pelo público da região sudeste, visto que encheu os dois shows que fez no SESC Belenzinho, com participação de Marcello Camelo e Zeca Baleiro, que aparecem para dar uma palhinha. Além dos dois -- que também contribuíram em Samba 808 -- participam do álbum também André Abujamra (Beira Mar), Chico César (Surdos da Escola de Samba) e Curumim (Esqueleto). O álbum tem influências do Mangue Beat da Nação Zumbi e Mundo Livre S.A., incursões eletrônicas e é cheio de referências à musica contemporânea marginal brasileira, além da boa e velha psicodelia.

Baixe o álbum no site da Musicoteca. Ouça: Surdos da Escola de Samba, Com a Ponta dos Dedos, Não Para.

Pélico - Que Isso Fique Entre Nós

O fim que virou canções: este é o título da matéria de Juliana Simon para a Revista O Grito, e define bem o álbum do músico paulistano Pélico. E eu realmente adoraria escrever algo sobre o álbum, mas acho que a crítica dela sintetizou tudo: "A sen­sa­ção de que nin­guém mais no mundo sabe o que se passa do lado de den­tro da porta, mesmo que todos sin­tam igual a dor de um final. Sofrer por amor é atem­po­ral, passa por Cartola, Lupicínio Rodrigues e, hoje, Pélico.". Este foi um bom ano para o artista, com shows lotados e uma boa projeção da mídia aberta, com pico no show feito no SESC Ipiranga com o também estrelado Filipe Catto, contando com versões de “No Rancho Fundo” de Lamartine Babo e Ary Barroso e “Sem Medida” e “Saga”, de Catto.

Baixe o álbum no site da Musicoteca. Ouça: Não Éramos Tão Assim, Tenha Fé, Meu Bem, Se Você Me Perguntar e Não Corra, Não Mate, Não Morra.

Madame Saatan - Peixe Homem

Uma das gratas surpresas de 2011 foi o som dessa banda de Belém, já havia travado algumas batalhas com amigos sobre a sonoridade do português no heavy-metal. Eis que o Madame Saatan aparece para mudar os meus conceitos sobre este gênero: é possível sim fazer um bom metal em português! Com ecos de bandas como Machine Head, Pantera, Biohazard e outras, trazem um peso tupiniquim aos nossos mansos ouvidos. Reunidos a oito anos, lançaram seu primeiro álbum auto-intitulado em 2007, e deram as caras aqui pelos sudestes em programas como Altas Horas, MTV, Multishow, Metrópole, etc. Já residindo em Sampa, lançaram o álbum Peixe-Homem, masterizado nos US e produzido por Paulo Anhaia, rendendo a banda o “Prêmio Dynamite de Música Independente 2008” como “Melhor Álbum de Metal”. Altamente indicado!

Baixe o álbum no site do Madame Saatan. Ouça: A Cicatriz, A Fúria, Rio Vermelho, Sete Dias, Sombra Em Você.

Criolo - Nó Na Orelha

Certamente o trabalho do Criolo 'Doido', alcunha que Kleber Cavalcante Gomes abandonou ao abraçar o 'mundão' da música pop, trazendo a "nova onda do hip-hop nacional", junto de artistas como Emicida, Rashid, e Pentágono, trás um frescor ao cenário deixado por grupos como Racionais, R.Z.O., Thaíde, Sabotage e outros gigantes do estilo. Ainda temos em suas letras a impressão do cotidiano e dos dialetos de toda a cidade São Paulo, de ponta a ponta. Entretanto, Criolo acentua ainda mais suas influências da música brasileira, e explora timbres, beats, vocalizações e instrumentações que dão contornos mais populares, utilizando ainda a contundência do rap, mas colorindo de tropicalismo, jazz, soul e até o brega-music em suas sonoridades.

Baixe o álbum no site do artista. Ouça: Subirudoistiuzin, Não Existe Amor em SP, Grajauex.

Filipe Catto - Saga

A primeira impressão que temos da música de Catto é de que contém uma visceralidade e uma paixão extremas. Em suas letras transparecem o gozo e a dor de amores perdidos, partidos, e conquistados. Similaridades com cantores como Ney Matogrosso são óbvias, mas o intérprete e compositor gaúcho se sobressai, e nos brinda com boleros, tangos, aqueles piano-jazz característicos dos grandes musicais da Broadway, tudo isto entra no caldeirão deste feiticeiro que nos encanta com sua mágica presença de palco, voz poderosa, e melodias lancinantes.

Baixe o álbum no site da Musicoteca. Ouça: Gardênia Branca, Saga, Nescafé, Crime Passional.

Internacionais:

Bernhoft - Solidarity Breaks

Solidarity Breaks é um belo álbum e trás músicas como "Good Intentions", onde há uma miríade de sonoridades que invadem nosso repertório sonoro de forma eficiente: logo na introdução vem um suingue que me remeteu a Kezia Jones, e por osmose de Fela Kuti, batida descompassada, samplers divertidos e um timbre inusitado de guitarra, baixo gordinho e marcando o compasso com propriedade. "C'mon Talk" é mágica: a perfeita música pop vem com melodias sedutoras e batidas samplers high-tech. Os destaques ficam ainda por conta de "Choices", "Stay With Me", "Prophet" e a versão para a música da banda Tears For Fears "Shout". Leia a resenha completa.

Ouça o álbum do artista no site oficial. Ouça: Choices, Cmon Talk, Prophet, Shout.

Kimbra - Vows

Sempre tive uma queda por vozes femininas e incomuns. Vows, o primeiro álbum da neozelandesa Kimbra, trás uma miríade de sonoridades que nos levam a uma viagem ao melhor do que já foi produzido na música dos dois últimos séculos em uma roupagem juvenil e refrescante. Vocalizações, beat-box, samplers, overdubs, grandes divas, seriados, new wave, os grupos black music dos anos 1990, orquestrações com lindos nipes de metais e cordas, pop rock, e arte visual deslumbrante. A cantora filtra influências advindas do hip-hop, nu-soul, pop rock, os spirituals da música africana utilizando prismas que vão de artistas como Stevie Wonder e Curtis Mayfiel à Camille, Bjork, Erykah Badu, numa verdadeira desconstrução e reconstrução da música pop.

Ouça as músicas no myspace da artista. Ouça: Settle Down, Cameo Lover, Call Me, Limbo.

Textures - Dualism

Dualism trás a banda norueguesa Textures em ótima forma. Certamente um dos maiores atores do álbum é o baterista Stef Broks. Dono de uma técnica refinada e precisa, é também um exímio compositor, compõe com a miríade de peças e timbres que possui em seu instrumento, e dão suporte melódico não só à "cozinha" baixo/guitarra, mas até mesmo às linhas vocálicas do novato De Jhong. A faixa "Reaching Home" entrou rapidamente nos primeiros lugares em listas de sites e rádios de rock e de todos os gêneros pelo mundo. Bastante cativante, trouxe uma sonoridade mais pop, melódica e introspectiva, sem perder suas digitais. Leia a resenha completa.

Ouça as músicas no Myspace do artista. Ouça: Arms of the Sea, Reaching Home, Sanguine Draws the Oath, Burning The Midnight Oil.

The Roots - Undun

Undun com certeza é um dos mais ambiciosos projetos do ano, para não dizer da década no rap e hip-hop mundiais, e da música como um todo. Álbum conceitual, conta a fictícia história de Redford Stephens, um jovem garoto da Filadélfia que se envolve com o tráfico de drogas e morre de forma trágica, como muitos por aí. Das quatorze músicas, dez formam o corpo da história, e as quatro últimas um réquiem soturno onde a banda desfila todo o seu talento. O The Roots, diferente de outros grupos de rap, se vale de músicos, e não só de samplers. Boa parte deles toca e canta. Carregado de influências nu-jazz, indie, e de música clássica de vanguarda, o álbum entrou para diversas listas de "melhores do ano" de sites formadores de opinião como os da revista Rolling Stone, Pop Matters, Pichfork, All Music Guide, The New York Times, The Guardian UK, entre outros. O Mc e baterista da banda Questlove citou sobre o álbum: “com undun nós esperávamos dar voz a um imaginado diálogo interno que poderia acontecer com um falecido jovem negro olhando para o nosso vazio pós-moderno.”

Ouça as músicas no Myspace do grupo. Ouça: Sleep, One Time, Stomp, Possibility (3rd Moviment).

Avishai Cohen - Seven Seas

Seven Seas foi produzido por Avishai Cohen, Itamar Doari e Lars Nilsson e gravado na Suécia. Contém dez lindas faixas e sete delas são de composição de Avishai, uma de Mordechai Zeira (um dos grandes compositores judaicos do século XX) e duas de domínio público, iídiche e ladino. Este álbum marca também maiores incursões de Avishai na parte vocal, canta em mais músicas e com maior desenvoltura e segurança que nos álbuns anteriores. O resultado do álbum é uma mescla do melhor que Cohen ja produziu até hoje. Altamente indicado para os fãs de boa música!

Ouça as músicas no Myspace do artista. Ouça: Dreaming, About A Tree ("Oyfn Weg Shteyt a Boym"), Seven Seas, Halah.

Feliz Ano Novo, que 2012 seja próspero!

Fernando Miranda

Nenhum comentário :

Postar um comentário

Seja gente boa, seu comentário sofrerá moderação!
Ofensas pessoais, ameaças e xingamentos não são permitidos.
Os comentários dos leitores não refletem a opinião do blog ou de seus colaboradores.

Instagram