Carnage é um filme que trata dos delírios e desejos da alma humana, e do constante conflito perante as convenções morais e sociais. É sobre a hipocrisia que nos força a moldar nosso comportamento em busca de aceitação e para preservarmos o de "senso de comunidade".

Baseado na peça Le Dieu du Carnage da dramaturga, escritora e atriz francesa Yasmina Reza, é dirigido por Roman Polanski, de O Pianista, e conta a história dos casais Nancy e Alan Cowan (Kate Winslet e Christoph Waltz) e Penelope e Michael Longstreet (Jodie Foster e John C. Reilly). Reunidos para discutir a briga que acabou com a perda de alguns dentes do garoto Longstreet, sob a pretensa premissa de resolver tudo de forma adulta e civilizada, acabam por entrar num conflito tão infantil quanto a de seus rebentos.

É interessante ver a dinâmica dos personagens, pois o diálogo e o roteiro tem papel central no longa. No decorrer do dia, os personagens vão desvelando lentamente sua verdadeira natureza: Alan é um advogado renomado, machista, frio e distante, que a todo tempo interrompe a reunião (e muitas vezes seu próprio argumento) para atender as importantes ligações de seu maior cliente. Nancy é a típica madame mimada que carrega o fardo de administrar todas as tarefas que o marido evita: cuidar da casa e dos filhos. Solitária, parece demonstrar desprezo pelas pessoas, e amargura pelo amor não mais correspondido de seu ocupado companheiro. Penélope, inicialmente tão amavel, banca a boa anfitriã preocupada com os bons costumes, a fome na África e com a educação das crianças. Mas logo se mostra mandona, controladora, "dona da razão". Michael, tão sensato e cordial, acaba por se revelar tão machista e insensível quanto Alan.


Polanski já havia trabalhado com autora na adaptação do clássico Metamorfose de Franz Kafka, o que lhe rendeu uma indicação ao Molière Awards na premiação de Melhor Tradução. Fruto desta amizade, Carnage foi realizado em Paris, apesar da história original se passar em Nova Iorque, e foi oficialmente lançado no Festival de Veneza. Na cerimônia, as atrizes Jodie Foster e Kate Winslet comentaram sobre as gravações. Para Foster "ele tem uma visão muito determinada e clara do que deve ser feito. Ele decide tudo. Decide até sobre as lentes que serão usadas na filmagem. É tudo com ele". Winslet adiciona que "Roman é um dos homens mais extraordinários que eu já conheci. O cara tem 77 anos. Mas ele está em ponto de fervura o tempo inteiro. Ela ama demasiadamente o que faz, o que é muito contagiante".

Durante a pré-estreia no Festival de Nova Iorque, seu diretor, Richard Pena, disse que "Polanski é um 'poeta dos pequenos espaços', com alguns cômodos, ele consegue trazer à tona os aspectos de uma sociedade inteira". Segundo Luiz Zanin, crítico do jornal Estado de São Paulo, "apesar de não disfarçar a origem teatral, Polanski evita a armadilha do teatro filmado. Usa a câmera para imprimir a sua escrita cinematográfica e nunca a deixa parada, como um olho mágico a assistir algo que se dá num palco".


Ps: Isabelle Bento, obrigado pela indicação! ;)

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